Operação FrançaOperação França http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br por Graciliano Rocha Mon, 18 Nov 2013 13:33:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Saideira http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/08/02/aurevoir/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/08/02/aurevoir/#respond Fri, 02 Aug 2013 17:39:42 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=251 Continue lendo →]]> Os franceses de esquerda, direita e centro (se é que isso existe de fato aqui) estabeleceram uma espécie de pacto de melancolia quando falam sobre o futuro de seu país. É um mal-estar existencial que se espraiou na imprensa, na política, nas conversas dos cafés e é o tema do último post deste blog, que será desativado.

A crise atual – com crescimento pífio e desemprego acima dos 11% da força de trabalho (recorde desde a década de 1990) – tornou o medo do declínio do país em uma experiência concreta e dolorosa.

Neste um ano trabalhando como repórter aqui, tive oportunidade de testemunhar como ricos e pobres são passageiros da agonia. Cada qual à sua maneira, é claro.

Uccle, um próspero subúrbio de Bruxelas, se tornou um paraíso para franceses endinheirados cansados dos impostos crescentes no país. Quando estive lá, meu táxi ficou preso em um surreal engarrafamento de porsches, jaguares e audis. (O texto você lê aqui). O ator Gerard Depardieu, o mais famoso “exilado fiscal” recente, não está sozinho.

Na divisa entre Paris e a cidade metropolitana de Montreuil, uma passarela sobre a Périphérique (anel viário de 10 pistas) vira um formigueiro nos finais de semana com pessoas comprando e vendendo todo o tipo de quinquilharias usadas. A feira clandestina é movida pela “biffe”, a atividade de juntar objetos no lixo e recuperá-los para vender. A novidade é que a atividade, antes praticamente restrita a imigrantes miseráveis, serve para assalariados franceses complementarem o orçamento do final do mês. É um exemplo chocante de empobrecimento da classe média-baixa de Paris. (Leia aqui reportagem de Mercado.)

“Aqui é o deserto da República. A polícia só aparece quando há um problema grande, a educação não funciona e o desemprego é muito maior do que dizem porque muita gente sem papel não entra na estatística”, disse-me o comerciante Nasri Guergous, 48, em Amiens-Nord, uma periferia que explodiu numa onda de violência no ano passado. Sintomaticamente, o local abriga uma fábrica de pneus da Good-Year em vias de ser destivada – que foi tema de posts no blog. (Leia mais aqui e aqui.)

Para um brasileiro da minha geração, a crise atual francesa é dura, mas está longe de ser um pesadelo como o confisco da poupança em 1990. Ou a hiperinflação. Ou da aterradora onda de assassinatos que solapou Salvador durante a greve da Polícia Militar no ano passado.

A comparação é certamente imprecisa, mas sempre me pergunto se esse mal-estar francês não seria uma tortura psicológica autoimposta. Um exagero já que a própria França já viveu períodos muito mais duros no passado e saiu muito forte (com a ajuda dos americanos, é verdade). Afinal, isso aqui também a terra dos trens de alta-velocidade, do luxo, da cozinha gloriosa e de grande apreço pela alta-cultura. Está entre os cinco maiores exportadores do mundo

O jornalista americano Roger Cohen fez-se a mesma pergunta e chegou a uma conclusão bastante tenaz: o mal-estar existencial está para os franceses como a família real está para os ingleses. É um meio de definir a si próprios.

“Este mau humor é uma forma de realismo feroz, uma sabedoria amarga. É uma homenagem à visão de Hobbes de que a vida do homem é, em geral, ‘solitária, pobre, sórdida, brutal e curta’”, escreveu Cohen, no The New York Times. (Aqui o texto, em inglês)

De certa maneira, isso também é uma negação ao mito fundador da França dos nossos tempos. Charles de Gaulle escreveu em suas “Memórias da Guerra”:

“Por toda a minha vida, eu formei uma certa ideia da França. Ela nasce do meu sentimento e da razão. Meu lado afetivo imagina naturalmente a França como a princesa dos contos de fadas ou a madona dos afrescos, voltada para um destino eminente e excepcional. Pelos meus instintos, a Providência a criou para vitórias absolutas ou revezes terríveis. Se, no entanto, acontece de a mediocridade marcar seus fatos e gestos, tenho a sensação de uma absurda anomalia, imputável às falhas dos franceses, e não ao gênio da pátria (…) Em suma, a meu ver, a França não pode ser a França sem grandeza”.

O mal-estar de hoje reflete também as incertezas de um país despossuído desta grandeza.

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Este blog procurou ser uma janela aberta para os grandes assuntos deste país fascinante. Muito obrigado pela audiência e comentários durante estes meses. O blog se tornou incompatível com meus projetos profissionais nos próximos meses aqui, na França. Para contatos, enviar emails para gracilianors@gmail.com.

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Como escapar de uma manada de touros http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/07/11/como-escapar-de-uma-manada-de-touros/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/07/11/como-escapar-de-uma-manada-de-touros/#comments Thu, 11 Jul 2013 18:09:25 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=235 Continue lendo →]]> Poucos anos depois de se ferir na Primeira Guerra Mundial, o jovem Ernest Hemingway passou a morar em Paris e visitar frequentemente o norte da Espanha. As touradas e a luz dourada de Pamplona, uma cidade próxima dos Pirineus, deram a atmosfera de seu incendiário romance “The sun also rises” (“O Sol Também se Levanta”, na edição brasileira), lançado em 1927. Cheguei a Pamplona essa semana para o festival de San Fermin (São Firmino, em português), como são conhecidos os nove dias anuais em que pamploneses e visitantes festejam pelas ruas e lotam a Plaza de Toros. Todos comem e bebem como se não houvesse amanhã.

Sanfermines são um transe coletivo como o Carnaval do Brasil. Garrafas vazias espalhadas no chão e a profusão de bêbados caídos antes de completar o percurso da volta para casa ecoaram, na minha memória, cenas já vistas em Salvador e no Recife. O cheiro de urina quase onipresente, na madrugada, reforçou essa impressão. A cidade de 250 mil habitantes recebe quatro vezes a sua população regular. A festa ferve 24 horas por dia: todos se vestem de branco, com faixas na cintura e lenços vermelhos no pescoço.

Os “encierros” são uma das marcas registradas da festa. É bem provável que você já tenha visto um pela TV. É aquela cena desatinada de de touros soltos para perseguir corredores voluntários. É um mistério por que alguém se mete nisso. Certa vez, um crítico da obra de Hemingway escreveu que “honra e coragem eram palavras que foram corrompidas pelos anos de guerra” e que, por consequência, os touros significaram uma oportunidade de redimir a valentia através do ritual. Quem nasce em Pamplona faz isso porque se orgulha desta tradição. Os estrangeiros – ou “guíris”, como os locais chamam os turistas – são atraídos pela adrenalina.

Pela tradição de Pamplona, mulheres e namoradas pagam churros e chocolate quente para os rapazes que correram no “encierro”.

Minhas razões jamais estiveram suficientemente claras (nem mesmo para mim) até a manhã desta quinta-feira.

Madruguei hoje e fui para a praça em frente à prefeitura de Pamplona. Escolhi um trecho do trajeto quando os touros ganham muita velocidade, mas os corredores são locais, e não turistas interessados em aparecer na TV. Exibicionistas são perigosos porque, andando em bandos, eles congestionam o caminho e aumentam o risco para si e para os outros.

Da praça da prefeitura, correria até a curva da rua Estafeta, conhecida aqui como a curva da morte. Corredores experientes param antes da curva ou iniciam a corrida a dezenas de metros depois dela. Nunca fazem uma virada de 90 graus junto com touros desgovernados. A curva abre o percurso final de 300 metros da rua que leva à Plaza de Toros, o fim do trajeto.

O JORNAL É O MELHOR AMIGO DO HOMEM

Às 6h45 a praça já estava lotada. Pouco depois das 7h, as cercas do percurso foram fechadas. O melhor amigo de quem vai correr num “encierro” é o jornal. Na praça à espera do foguete que a anuncia que os touros foram soltos, o jornal não é somente um passatempo no meio da multidão. Atende a uma necessidade de segurança: durante a corrida, quando estamos correndo em frente à manada, uma das mãos carrega o jornal dobrado, como uma espécie de radar para medir o quão próximo está o touro. É um instrumento precioso para não ter de virar a cabeça e descuidar dos obstáculos logo à frente (curvas e pessoas) que podem provocar uma queda e um pisoteamento. É, sobretudo, uma válvula de escape para o medo.

Às 7h30, já achei o meu lugar e comecei a folhear o “Diario de Navarra”, que trouxe uma impressionante sequência de fotos de um inglês de 26 anos que escapou por milagre no dia anterior. Logo depois da curva da Estafeta (a desgraçada), Nick Pannel viu um amigo caído e correu na direção da curva por onde, menos de um segundo depois, passariam os touros. Quando ele chegou, deu de cara com os touros que fizeram a curva rápida e atabalhoadamente. O lado de fora do chifre esquerdo de um dos animais prendeu-se a camiseta do rapaz e depois deu uma pancada no peito dele.  Um susto e tanto, mas os dois escaparam com ferimentos leves.

Percebi que o jornal estava enxugando o suor das minhas mãos. De vez em quando, a multidão entoava alguma música. Uns se aqueciam, outros jogavam conversa fora. Eu lia sobre as características dos seis touros selecionados para o dia: Buenasiesta (560 kg), Promesa (525 kg), Juerguista (510 kg), Finito (500 kg), Mentirita (525 kg) e Rayosol (564 kg). Os touros pertencem a uma cabanha tradicional, a Torrestrella, que tem a mais alta taxa de feridos nos “encierros”. Sim, os jornais locais têm uma estatística atualizada para isso. Um Torrestrella matou um americano em 1995. Suava de calor e de nervoso.

Por volta das 7h45, a polícia apareceu para retirar da praça quem não ia correr. Ou quem parecia bêbado demais para tentar. Achei curioso o conceito de uma polícia que protege os cidadãos de si mesmos. Enquanto via as pessoas saindo, comecei a me perguntar se não era hora de dar o fora também. Pensamento ordinário que me ocorreu na hora: com mais gente correndo, a chance de um touro atingir outro corredor (e não a mim) era maior. Pura besteira, com menos gente na rua cai também o risco de ser empurrado ou de tropeçar em alguém na hora do salve-se quem puder. Dobrei o jornal. Comecei a alongar as pernas e pular para aquecer.

UMA RAJADA DE ANFETAMINA

Às 8h, o foguete dispara, os bichos estão soltos e só resta correr. Espero para ter a visão dos touros subirem pela rua Santo Domingo e inicio um tipo de trote na praça em frente à prefeitura. Viro a cabeça, vejo-os despontando no início da descida e acelero tudo. O jornal está na mão direita, apontado para trás.

Quando o jornal toca alguma coisa, a vida fica ridiculamente simples: corre, corre, corre, vaza da frente da manada. Cinco ou seis segundos parecem muito longos na frente de seis touros em disparada. O tempo corre diferente, mais lento. Você também: mais rápido. Não, ainda não, só mais um pouco. Não dá para errar agora, não agora, não agora. Não entra na curva, não entra na curva. Agora, agora.

Meu ombro esquerdo se chocou na porta metálica de um Burger King e uma rajada de anfetamina bateu direto no cérebro. Consegui? Deu certo? Décimos ou centésimos de segundos depois, os seis touros já haviam me ultrapassado. Vi-os de lado e de traseira. Estavam dobrando a famosa curva da Estafeta – bem no lugar onde o tal inglês nascera de novo, no dia anterior. Um cara estava caído no chão. Parecia se mexer. Com as costas na parede, eu ainda apertava o jornal com a mão direita como se disso ainda dependesse o meu futuro. Aí era o só medo de que algum dos touros caísse desorientado e voltasse em sentido contrário, bem em cima de mim, a poucos passos da curva. O coração estava na boca.

Respirei fundo, constatando instintivamente de que escapara ileso, e saí desembestado em nova carreira. Desta vez, atrás dos touros. Foram uns bons 80 metros na Estafeta. São surpreendentemente rápidos e ágeis para animais com mais de meia tonelada. Desisti e fiquei andando. Correr atrás dos touros, aliás, é uma coisa bem idiota de se fazer porque um deles pode se desgarrar e voltar.

Cruzei com um cara que havia saído comigo da praça da prefeitura, um veterano local. Ele me deu um tapão no braço e abriu o sorriso. Ele comemorava batendo o jornal dobrado, furiosamente, na palma da mão aberta. Imitei o gesto. Acreditem, faz um belo som.

Um sujeito que caiu antes da curva da Estafeta estava sendo atendido pelos paramédicos. O rapaz de uns vinte anos caiu e por pouco não foi pisoteado. Estava bem. Deitado na calçada, enquanto uma médica o examinava, ele estava consciente e ainda apertava, com muita força, o jornal dobrado.

Encontrei minha mulher numa ruazinha. Agradeci as preces dela e fomos atrás dos churros.

PS: O saldo do encierro de hoje foi de três pessoas hospitalizadas: um com traumatismo craniano, outro com o tornozelo quebrado e outro com escoriações por todo o corpo após uma queda. 

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Um drone no Vaticano http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/07/05/dronevaticano/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/07/05/dronevaticano/#respond Fri, 05 Jul 2013 13:22:49 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=215 Continue lendo →]]> [There is a video that cannot be displayed in this feed. Visit the blog entry to see the video.]

O vídeo acima é experimental. Usamos um pequeno drone para testar a captura de imagens na magnífica praça São Pedro, no microestado do Vaticano, com finalidade jornalística.

Ainda muito controvertidos por serem usados no ataque a alvos dos Estados Unidos no Paquistão e no Iêmen, os drones estão se tornando uma aposta de canais de TV para coletar imagens exclusivas de manifestações, desastres e cobrir conflitos.

A inglesa BBC já usa essas aeronaves não tripuladas para captar imagens de cenas de crime e incêndios. O canal australiano ABC já usa com frequência para obter imagens externas e de eventos esportivos.

A Folha foi o primeiro veículo de comunicação brasileiro a usar um drone para cobrir os protestos que sacudiram o Brasil no mês passado.

O vídeo foi produzido por mim, que pilotei o drone e coletei imagens aéreas, e pelo repórter Leandro Demori, que operou uma câmera de solo para mostrar o drone em ação.

(Post escrito de Roma)

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Guerra dos jatos http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/06/07/guerra-dos-jatos/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/06/07/guerra-dos-jatos/#respond Fri, 07 Jun 2013 18:01:48 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=209 Continue lendo →]]> A guerra travada pela Airbus e a Boeing pela hegemonia no bilionário mercado dos jatos de longa distância é feita de saltos tecnológicos, apostas arriscadas e muita bravata.

A Airbus corre contra o tempo para realizar o primeiro voo do seu novo A350, sua grande arma para tentar interromper o reinado dos 777 e 787 Dreamliner da concorrente americana. Trata-se da última geração de aeronaves com grande eficiência energética.

Mais da metade de seus componentes são feitos de um composto à base de fibra de carbono – mais leve que o tradicional alumínio – o que resulta em economia na queima de combustível. São jatos movidos por dois motores e que, na cabine, tem dois corredores dividindo as filas de passageiros.

Primeira a investir na tecnologia, a Boeing está na liderança: o Dreamliner já tem mais de 900 encomendas contra 616 do novo A350. O bônus do pioneirismo também veio com problemas: potenciais riscos de explosão das baterias de lítio, que alimentam os sistemas aviônicos, suspenderam temporariamente o voo destes avioes em janeiro.

À medida que a Paris Air Show, o maior evento de um setor que movimenta US$ 100 bilhoes por ano, se aproxima (17 a 23 de junho), a temperatura esquenta.

“Não temos interesse por avioes que ficam no chão”, disse o presidente da Airbus, Fabrice Brégier, alfinetando a Boeing pela encrenca das baterias.

A frase cortante foi feita sob medida para responder ao presidente da Boeing, Jim McNerney, que dias antes havia afirmado que a “Airbus não tem interesse por inovação”.

A Airbus corre contra o tempo para por o A350 no ar. O primeiro voo deverá acontecer até o final da próxima semana, antes da Paris Air Show. O novo Airbus será construído em três versoes: o A350-800, o A350-900 e o A350-1000, que comportam, respectivamente, 270, 314 e 350 passageiros.

A visão dos executivos da Airbus sobre o Brasil oscila entre o entusiasmo com o forte crescimento do mercado aéreo da última década no país e os problemas de infraestrutura que inibem o setor.

Quando perguntei sobre o mercado sul-americano, Brégier disse que a fusão da TAM com a Lan Chile, que resultou na Latam, criou um “parceiro estratégico” para a Airbus, o maior cliente dos avioes europeus no hemisfério Sul. Só a TAM encomendou 27 A350. O Sineygy Group (colombiana Avianca) tem outros dez pedidos do novo jato.

O A380, jato de dois andares que pode transportar até 850 passageiros, está patinando comercialmente (desde dezembro não recebe novas encomendas) e, se depender da situação dos situação dos aeroportos brasileiros, isso não deve mudar imediatamente.

Nenhum aeroporto do Brasil recebe o gigante de quatro motores. O problema não está nas pistas, mas nos terminais. Imagine, 800 passageiros desembarcando de uma só vez e formando fila no controle de passaportes em Guarulhos…

Para renovar os aeroportos, o governo privatizou Guarulhos, Viracopos e Brasília e a previsão de uma nova concorrência para entregar a gestao de mais dois aeroportos à iniciativa privada ainda este ano.

(Viajei a Toulouse, como enviado da Folha, a convite da Airbus)

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“Eu vos declaro marido e marido” http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/05/29/eu-vos-declaro-marido-e-marido/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/05/29/eu-vos-declaro-marido-e-marido/#respond Wed, 29 May 2013 16:32:42 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=199 Continue lendo →]]> Foi um casamento tradicional em quase todos os aspectos: os noivos de mãos dadas e olhos marejados, cerca de 300 convidados em traje de festa, um rápido beijo apaixonado logo após o “sim”, diante de lágrimas de ambas as famílias.

Foi uma cerimônia civil normal, mas não foi banal em nenhum sentido: Vincent Autin, 40, e Bruno Boileau, 30, foram os primeiros dois homens a se casarem oficialmente na França.

O amor que dizem sentir um pelo outro se transformou no símbolo político da luta vitoriosa pelos direitos dos homossexuais na França.

A cerimônia foi celebrada agora há pouco na Prefeitura de Montpellier (748 km de Paris), menos de duas semanas depois do presidente François Hollande promulgar a lei e três dias após 150.000 pessoas participarem de uma grande manifestação em Paris contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Os noivos chegaram ao prédio da Prefeitura (onde são realizados os casamentos civis na França) sob uma chuva de papel picado e foram saudados por militantes que erguiam no ar bandeiras de arco-íris.

Ao som de “Love” de Nat King Cole, os dois entraram juntos no salão, aplaudidos pelos convidados e vigiados pelo foco de câmeras de jornalistas do mundo todo.

Sentados com as mãos dadas, Bruno e Vincent tinham os olhos marejados enquanto a prefeita Hélène Mandroux (socialista) fazia um discurso sobre como a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo se inscrevia dentro dos conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade, sobre qual se fundaram a França moderna.

“Igualdade não se negocia. É a possibilidade de viver com dignidade e respeito. Ela se inscreve na longa tradiçao de luta contra a discriminação por causa de raça, religiao e sexo”, disse a prefeita.

Logo depois, Mandroux leu os artigos do Código Civil sobre o casamento e concluiu: “vocês estão unidos pelo casamento em nome da lei”.

Depois que assinaram os papeis, Bruno e Vincent finalmente se beijaram (de um jeito que parecia um pouco tímido). Foram ovacionados.

No final, Vincent pegou um microfone e falou de improviso. Agradeceu às organizaçoes de direitos dos homossexuais, aos militantes e às respectivas famílias, que os apoiaram durante todo o tempo.

“Esperamos por isso muito tempo”, disse, com a voz embargada.

HOLOFOTES E DECTECTOR DE METAIS

Pouco depois, o primeiro casal gay da França foi à sacada do prédio para cumprimentar a multidão de algumas centenas de pessoas que se aglomeraram do lado de fora. Em novo discurso de improviso, Vincent Autin homenageou “todos os militantes que tombaram antes de conhecer a alegria deste momento que nós estamos compartilhando”.

O casamento de Bruno e Vincent foi, sem dúvida, o mais midiático da história recente da França. Canais de notícia transmitiram ao vivo toda a cerimônia de casamento agora à tarde. (A descrição feita pelo blog foi possível graças à transmissão da BFM TV).

Segundo a prefeitura, cerca de 200 jornalistas de veículos franceses e da imprensa internacional foram credenciados para a cerimônia.

Houve um forte esquema de segurança por causa do clima tenso resultante dos atos de violência ocorridos em Paris, quando opositores da lei invadiram a sede do Partido Socialista e atacaram a polícia, no último domingo.

Um detector de metais foi instalado na entrada da Prefeitura de Montpellier e dezenas de policiais montaram um aparato de vigilância do lado de fora.

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Repórteres do "Le Monde" testemunharam ataque químico na Síria http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/05/27/ataque-quimico-na-siria/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/05/27/ataque-quimico-na-siria/#respond Mon, 27 May 2013 10:01:40 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=186 Continue lendo →]]> Repórteres do jornal francês “Le Monde” testemunharam um ataque com armas químicas pelas forças do ditador Bashar al-Assad contra rebeldes do Exército Livre da Síria, principal braço armado da oposição no país.

Trata-se de um gás incolor e inodoro, que se espalha no ar sem fumaça. Segundo o Monde, o ataque químico ocorreu em Jobar, cidade perto da Damasco, ocupada pelos rebeldes desde janeiro.

Os repórteres Jean-Philippe Rémy e Laurent Van Der Stockt entraram clandestinamente na Síria, conseguiram chegar à cidade e presenciaram o ataque químico.

Após o ruído metálico similar ao de uma lata de Pepsi cair no chão, descreve o jornal na edição que chega às bancas nesta segunda, os combatentes começaram a sentir os efeitos do gás.

A neurotoxina age rápido: primeiro, as vítimas começam a tossir violentamente, os olhos queimam e as pupilas se contraem ao extremo até a vista escurecer. Logo depois, começam as dificuldades agudas para respirar, vômitos e desmaios.

No vídeo que o jornal “Le Monde” pôs no ar, combatentes aparecem distribuindo máscaras antigás após um ataque. Médicos ouvidos pelos repórteres relatam que o gás foi responsável por mortes. (Clique aqui para ver, em francês com legendas em inglês)

Os rebeldes estão sendo tratados com a administração de atropina (antídoto para o gás Sarin), hidrocortisona (antibiótico) e oxigênio. O suprimento de medicamentos está em vias de terminar.

Van Der Stockt, fotógrafo independente que está na Síria para o “Le Monde”, relatou ter sentido sintomas de sufocamento.

“Senti a mesma coisa: pupilas contraídas e dificuldades para respirar. (…) Os efeitos são mais ou menos graves, dependendo do tempo de exposição e de como o vento se desloca”, relatou Van Der Stockt, em uma entrevista a um canal de TV agora há pouco. (Clique aqui para ver, em francês)

Cidade colada a Damasco, Jobar é hoje o front de combate mais próximo do centro da capital. A cidade em ruínas é controlada desde janeiro por três grupos de combatentes (Tahrir al-Sham, Liwa al-Islam e Jabhat al-Nusra), ligados ao Exército Livre da Síria.

Para se proteger de bombardeios e snipers, os rebeldes circulam por dentro de uma centena de casas, interligadas por buracos abertas nas paredes.

Segundo o Le Monde, a primeira morte em Jobar pelo uso do gás misterioso pode ter ocorrido em 18 de abril. Em 8 de abril, o hospital al-Fateh de Kafer Batna, na região de Ghouta (leste de Damasco) registrou um paciente com sintomas de contaminação por uma neurotoxina. Segundo o pessoal médico ouvido pelo “Le Monde”, o homem teria sido exposto ao gás na cidade de Otaiba, onde o governo sírio move uma ofensiva contra os rebeldes desde março. O conjunto desses episódios pode indicar o uso massivo da arma química.

“A rebelião não está ganhando terreno nem ameaça o regime na capital. É o contrário, os rebeldes estão cada vez mais cercados. As armas químicas estão sendo bastante utilizadas (…) É um crime de Estado massivo”, disse Van Der Stockt.

Segundo o jornalista, o objetivo do uso do gás não parece ser o de obter uma vitória militar direta sobre os rebeldes – já que os bombardeios convencionais são bem mais letais –, mas provocar deserçoes.

“O interesse do regime em usar essa arma é que ela é pouco detectável. Não tem cor nem cheiro. É um tipo de arma de terror, porque há um temor permanente que desencoraja muita gente. Evidentemente, [o ataque com gás] fez muito menos vítimas que os bombardeios convencionais, mas gera muito medo, inclusive nos civis. É um tipo de arma psicológica”, disse.

LINHA VERMELHA

Em agosto de 2012, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o uso de armas químicas pelo regime de al-Assad se constituía a “linha vermelha” que, se ultrapassada, justificaria uma intervenção internacional na Síria. Desde então, EUA, Turquia e Israel já afirmaram que havia indícios do uso de armas químicas, mas nenhuma prova surgiu além dos rumores.

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As ironias da vida do maior palhaço do mundo http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/05/26/as-ironias-da-vida-do-maior-palhaco-do-mundo/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/05/26/as-ironias-da-vida-do-maior-palhaco-do-mundo/#respond Sun, 26 May 2013 11:43:31 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=180 Continue lendo →]]>

Na edição da Folha que está nas bancas neste domingo, a revista Serafina traz um perfil que escrevi sobre o russo Slava Polunin, considerado pela crítica especializada o melhor palhaço do mundo. Há 20 anos, ele criou o Slava’s Snowshow, um espetáculo sem falas que já angariou alguns dos mais prestigiosos prêmios internacionais.

O espetáculo, que fala sobre vida, morte e beleza, é um produto direto do modo como a personalidade obstinada de Slava absorveu as ironias de sua própria vida. Sua vida e seu sucesso são um produto direto das transformaçoes sofridas pelo seu país e pelo mundo no século 20. Fora do palco, o russo é um leitor voraz de literatura, filosofia e um estudioso dedicado das grandes ideias do teatro.

Nascido em 1950 em Novosil, uma cidadezinha do oeste da Rússia, Slava (diminutivo para Vyacheslav) era filho do administrador de uma estatal agrícola soviética e de uma dona de casa. Charles Chaplin foi sua primeira obsessão.

No auge da Guerra Fria, quando cumpria o serviço militar de dois anos no Exército Vermelho, ele leu metodicamente uma lista de cem obras de autores importantes da literatura russa. Dostoiéveski era o favorito.

Na juventude, Slava sofreu uma grande frustração ao ser rejeitado pelo Instituto de Teatro de Leningrado (atual São Petersburgo) por ter uma voz inadequada para ser ator.

Matriculou-se na faculdade de engenharia, a grande ambição contemplada pela mãe para o futuro do único filho homem (Slava só tem uma irmã).

Como o cálculo de derivadas jamais o comoveu, Slava conciliava as obrigaçoes acadêmicas com o estudo, por conta própria, da teoria do teatro.

O rapaz da voz recusada subiu ao palco pela primeira vez aos 18 para representar a pantomina chamada “Litsedei”, a palavra russa que designa o mímico. Passou 20 anos com o espetáculo e ganhou fama na União Soviética.

Não deixa de ser uma ironia que a rejeição pela burocracia universitária soviética tenha conduzido Slava ao humor silencioso do seu herói de infância e que isso tenha definido sua carreira.

Quando a União Soviética entrou em colapso, rebaixando o chamado socialismo real à condição de consequência acidental e passageira da História, ele partiu para o Ocidente – como muitos artistas dos países da antiga Cortina de Ferro. Trabalhou nos anos 90 no Cirque de Soleil.

Desde 1999 dedica-se inteiramente ao seu Slava Snnowshow, que ecoa sua própria infância na gelada Novosil.

Clique aqui para ler a reportagem da Serafina e conhecer as ideias que movem Slava Polunin.

A foto acima foi clicada por Mastrângelo Reino, durante nossa visita a Crécy-la-Chapelle.

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A França arrependida http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/04/30/a-franca-arrependida/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/04/30/a-franca-arrependida/#respond Tue, 30 Apr 2013 11:22:35 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=176 Continue lendo →]]> Pudessem voltar a abril do ano passado, os franceses teriam levado ao segundo turno o então presidente Nicolas Sarkozy (centro-direita) e Marine Le Pen (extrema-direita). O socialista François Hollande teria ficado em terceiro.

Em História, o “se” e todas as suas variações servem à especulação e ao exercício intelectual de conjetura, mas não tem consequência já que trata apenas das hipóteses não consumadas. Em política, o segundo turno que não aconteceu ajuda a medir o tamanho do desencanto do eleitor francês com o presidente.

Contratado pelo canal de notícias BFM TV, o instituto de pesquisas CSA foi às ruas para saber em quem os franceses votariam se o primeiro turno da eleição presidencial fosse no próximo domingo com os mesmos candidatos: Sarkozy teria 34%, Le Pen 23% e Hollande 19%.

Se comparado o resultado das urnas com as respostas da pesquisa divulgada ontem à noite, Hollande encolheu quase dez pontos percentuais enquanto Sarkozy e Le Pen cresceram, respectivamente, sete e cinco pontos percentuais.

Na prática, um terço dos eleitores de Hollande no ano passado disse que não voltariam a apoiá-lo novamente. É uma erosão e tanto. Segundo a pesquisa, 62% reprovam suas medidas para combater o desemprego e 49% acham que o governo não é capaz de preservar o poder de compra da população.

Não é de se estranhar a inquietação: a economia deve ficar estagnada esse ano e o desemprego é o mais alto desde 1997. Hollande herdou um cenário degradado com a Europa afundada em uma crise muito grande, mas os eleitores não veem mais nele alguém capaz de evitar que a economia do país vá para o buraco.

Pesquisas anteriores já vinham apontando Hollande como o presidente mais impopular desde que Charles de Gaulle fundou a Quinta República em 1958. A importância dessa pesquisa é medir quem é que mais ganha com a degradação política do socialista.

Evidentemente, Sarkozy é o que tem mais motivos para se deliciar com a saudade que muitos eleitores (inclusive, socialistas) dizem sentir dele no Eliseu.

Outro fato importante é o crescimento sustentado de Marine Le Pen, cuja plataforma é de tirar a França da zona do euro a qualquer custo e expulsar o máximo de imigrantes que conseguir.

Quando ela teve 18% dos votos no ano passado, muita gente se perguntou se esse percentual representa o tamanho da população xenófoba no país. Era a pergunta errada.

Uma parte do eleitorado da FN (Frente Nacional) evidentemente culpa os imigrantes pela piora da economia do país, mas é o desencanto com o projeto europeu que faz madame Le Pen crescer e aparecer. A cada novo país que cai no dominó da zona do euro, Marine Le Pen renova o seu discurso contra a moeda única.

Segundo a CSA, no tal segundo turno Sarkozy-Le Pen: o ex-presidente teria 67% contra 33% da candidata da FN. Se a disputa Sarkozy-Hollande se repetisse, o hiperativo ex-presidente conquistaria 61% dos sufrágios contra 39% do “presidente normal”.

Hollande ainda está por cumprir o primeiro dos seus cinco anos de mandato e ainda pode recuperar terreno perdido. Mas precisa de resultados logo.

Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa CSA-BFM TV (em francês)

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Os interesses em jogo na polêmica do casamento gay na França http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/04/23/os-interesses-em-jogo-na-polemica-do-casamento-gay-na-franca/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/04/23/os-interesses-em-jogo-na-polemica-do-casamento-gay-na-franca/#respond Tue, 23 Apr 2013 11:05:10 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=170 Continue lendo →]]> A França deverá se tornar, hoje, o 14º país do mundo a permitir o casamento entre as pessoas do mesmo sexo. Casais homossexuais também deverão ganhar o direito a adoção.

A votação final da matéria deverá ser rápida, já que é clara a maioria do socialista François Hollande no parlamento. O projeto já passou em primeiro turno na Assembleia Nacional e no Senado.

(EDITADO ÀS 17h40 [12h40 DF]: O PROJETO FOI APROVADO POR 331 VOTOS A 225.)

Houve uma intensificação dos protestos contra o projeto nos últimos dias. As manifestaçoes são praticamente diárias em Paris. Elas juntam grupos heterogêneos.

Os opositores tentam colar a impopularidade de Hollande, rejeitado por mais de 70% do eleitorado após onze meses, mas isso não tem funcionado já que pesquisas de opinião mostram que a maioria da população é favorável ao “casamento para todos”, como o governo batizou o projeto.

Rachada em terríveis disputas internas, a UMP (partido de centro-direita de Nicolas Sarkozy) viu na oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo uma oportunidade de recuperar um mínimo de unidade interna e abraçou a causa.

A igreja, obviamente, tem arregimentado o seu rebanho para protestar em Paris. A Frente Nacional (legenda de extrema-direita) também combate a iniciativa, apesar de sua líder, Marine Le Pen, ter dito que muitos dos opositores ao projeto são homofóbicos.

Uma parte do grupo que foi às ruas no último domingo se autodenomina “Primavera Francesa” e tenta capitalizar a fúria contra Hollande, a quem culpam pelo baixo crescimento e pelo desemprego recorde do país, em favor da agenda anticasamento gay.

OS RADICAIS

Nas margens do movimento legítimo de oposição ao projeto, contudo, há grupos radicais responsáveis por ataques contra homossexuais. Semanas atrás houve enfrentamento entre manifestantes e a polícia, próximo da Assembleia Nacional – o que levou a própria liderança dos que se opoem ao casamento a dizer que o movimento estava “infiltrado” por extremistas.

Em uma grande manifestação que reuniu centenas de milhares de pessoas em uma tarde de março, grupos extremistas foram deixados de fora. Eles desfilaram, sozinhos, à noite.

Com faixas chamando a homossexualidade de “perversão”, a marcha tinha aspecto militarizado e muitos participantes com rosto coberto por máscaras. A tropa-de-choque os acompanhou de perto, mas naquela ocasião não houve confusão.

Há duas semanas, o holandês Wilfred de Bruijn estava caminhando com o namorado numa rua em Paris quando foi atacado por um grupo. A foto do rosto ensanguentado de Bruijn foi compartilhada milhares de vezes no Facebook (Clique aqui para ver).

Também houve ataques contra bares gays em Bordeaux (sudoeste do país) e Lille (norte). Em Nice (sul), um casal de homens também foi agredido no final de semana.

PREFEITOS REBELDES

A UMP pretende questionar o projeto do casamento entre pessoas do mesmo sexo, no Conselho Constitucional – que tem um papel de guardião da Constitucional (no Brasil, isso é feito pelo Supremo Tribunal Federal). A chance de sucesso é incerta.

Diferentemente do Brasil, onde os casamentos civis são realizados no cartório, na França o ato civil ocorre na prefeitura. Em vez de um tabelião, quem celebra o casamento é o prefeito.

É uma cerimônia rápida, onde os noivos dizem o “sim” diante de bandeiras tricolores e de um pôster do presidente da República. Quando me casei aqui ano passado, a foto era de um Sarkozy sorridente e o prefeito ostentava uma faixa azul, branca e vermelha sobre o paletó. Tudo muito republicano.

O prefeito da pequena Selestat (leste), Marcel Bauer (UMP), disse hoje à BFM TV que prefere deixar o cargo a casar dois homens.

“Se essa lei passar, o prefeito que se recusar (a casar gays) poderá pegar três anos de prisão, pagar uma multa de 45 mil euros [R$ 117 mil] e a destituição do cargo. É melhor renunciar antes”, disse Xavier Lemoine (UMP), prefeito de Montfermeil, perto de Paris.

A vice dele, do mesmo partido, diz que renuncia junto com o titular, se isso ocorrer. A imprensa francesa diz que centenas de prefeitos ameaçam fazer o mesmo. O tempo dirá quantos estão fazendo bravata.

MAIS SOBRE A FRANÇA:

No último sábado, a Folha publicou reportagens que escrevi sobre a situação atual da política e da economia da França.

DESEMPREGO E FRAUDES FAZEM REJEIÇÃO A HOLLANDE EXPLODIR

HOLLANDE ESFRIA AS RELAÇÕES FRANCESAS COM A ALEMANHA

SITE DE JORNALISMO INVESTIGATIVO GANHA FAMA COM ESCÂNDALOS

 

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Casamento homossexual avança na França http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/04/10/casamento-homossexual-avanca-na-franca/ http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/2013/04/10/casamento-homossexual-avanca-na-franca/#respond Wed, 10 Apr 2013 09:08:57 +0000 http://operacaofranca.blogfolha.uol.com.br/?p=166 Continue lendo →]]> O Senado francês aprovou, ontem à noite, o primeiro artigo projeto de lei que assegura o direito às pessoas do mesmo sexo de se casarem.

A íntegra do projeto ainda está em apreciação no Senado e, se não houver mudanças em relação ao texto já aprovado na Assembleia Nacional, deverá seguir para a sanção do presidente François Hollande.

A aprovação do “casamento para todos”, conforme o eufemismo cunhado pelo governo socialista para batizar a proposta, foi apertada: 179 votos a 157.

A divisão dos senadores refletiu a forte pressão popular contra a medida. Embora pesquisas apontem que a maioria dos franceses sejam favoráveis ao casamento homossexual, os opositores da medida reuniram centenas de milhares de pessoas e tomaram as ruas de Paris e das principais cidades francesas nos últimos meses.

PS: Despencando nas pesquisas de opinião por causa do fraco desempenho da economia e do escândalo das contas secretas que derrubou seu ministro do Orçamento, François Hollande teve nova desventura.

O camelo que o presidente ganhou em Timbuctu, como reconhecimento do povo do Mali pela França ter varrido os radicais islâmicos das cidades do norte do país, foi devorado na semana passada pela família encarregada de cuidar do animal, segundo informação da revista Valeurs Actuelles.

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