Guerra dos jatos
07/06/13 15:01A guerra travada pela Airbus e a Boeing pela hegemonia no bilionário mercado dos jatos de longa distância é feita de saltos tecnológicos, apostas arriscadas e muita bravata.
A Airbus corre contra o tempo para realizar o primeiro voo do seu novo A350, sua grande arma para tentar interromper o reinado dos 777 e 787 Dreamliner da concorrente americana. Trata-se da última geração de aeronaves com grande eficiência energética.
Mais da metade de seus componentes são feitos de um composto à base de fibra de carbono – mais leve que o tradicional alumínio – o que resulta em economia na queima de combustível. São jatos movidos por dois motores e que, na cabine, tem dois corredores dividindo as filas de passageiros.
Primeira a investir na tecnologia, a Boeing está na liderança: o Dreamliner já tem mais de 900 encomendas contra 616 do novo A350. O bônus do pioneirismo também veio com problemas: potenciais riscos de explosão das baterias de lítio, que alimentam os sistemas aviônicos, suspenderam temporariamente o voo destes avioes em janeiro.
À medida que a Paris Air Show, o maior evento de um setor que movimenta US$ 100 bilhoes por ano, se aproxima (17 a 23 de junho), a temperatura esquenta.
“Não temos interesse por avioes que ficam no chão”, disse o presidente da Airbus, Fabrice Brégier, alfinetando a Boeing pela encrenca das baterias.
A frase cortante foi feita sob medida para responder ao presidente da Boeing, Jim McNerney, que dias antes havia afirmado que a “Airbus não tem interesse por inovação”.
A Airbus corre contra o tempo para por o A350 no ar. O primeiro voo deverá acontecer até o final da próxima semana, antes da Paris Air Show. O novo Airbus será construído em três versoes: o A350-800, o A350-900 e o A350-1000, que comportam, respectivamente, 270, 314 e 350 passageiros.
A visão dos executivos da Airbus sobre o Brasil oscila entre o entusiasmo com o forte crescimento do mercado aéreo da última década no país e os problemas de infraestrutura que inibem o setor.
Quando perguntei sobre o mercado sul-americano, Brégier disse que a fusão da TAM com a Lan Chile, que resultou na Latam, criou um “parceiro estratégico” para a Airbus, o maior cliente dos avioes europeus no hemisfério Sul. Só a TAM encomendou 27 A350. O Sineygy Group (colombiana Avianca) tem outros dez pedidos do novo jato.
O A380, jato de dois andares que pode transportar até 850 passageiros, está patinando comercialmente (desde dezembro não recebe novas encomendas) e, se depender da situação dos situação dos aeroportos brasileiros, isso não deve mudar imediatamente.
Nenhum aeroporto do Brasil recebe o gigante de quatro motores. O problema não está nas pistas, mas nos terminais. Imagine, 800 passageiros desembarcando de uma só vez e formando fila no controle de passaportes em Guarulhos…
Para renovar os aeroportos, o governo privatizou Guarulhos, Viracopos e Brasília e a previsão de uma nova concorrência para entregar a gestao de mais dois aeroportos à iniciativa privada ainda este ano.
(Viajei a Toulouse, como enviado da Folha, a convite da Airbus)