As ironias da vida do maior palhaço do mundo
26/05/13 08:43Na edição da Folha que está nas bancas neste domingo, a revista Serafina traz um perfil que escrevi sobre o russo Slava Polunin, considerado pela crítica especializada o melhor palhaço do mundo. Há 20 anos, ele criou o Slava’s Snowshow, um espetáculo sem falas que já angariou alguns dos mais prestigiosos prêmios internacionais.
O espetáculo, que fala sobre vida, morte e beleza, é um produto direto do modo como a personalidade obstinada de Slava absorveu as ironias de sua própria vida. Sua vida e seu sucesso são um produto direto das transformaçoes sofridas pelo seu país e pelo mundo no século 20. Fora do palco, o russo é um leitor voraz de literatura, filosofia e um estudioso dedicado das grandes ideias do teatro.
Nascido em 1950 em Novosil, uma cidadezinha do oeste da Rússia, Slava (diminutivo para Vyacheslav) era filho do administrador de uma estatal agrícola soviética e de uma dona de casa. Charles Chaplin foi sua primeira obsessão.
No auge da Guerra Fria, quando cumpria o serviço militar de dois anos no Exército Vermelho, ele leu metodicamente uma lista de cem obras de autores importantes da literatura russa. Dostoiéveski era o favorito.
Na juventude, Slava sofreu uma grande frustração ao ser rejeitado pelo Instituto de Teatro de Leningrado (atual São Petersburgo) por ter uma voz inadequada para ser ator.
Matriculou-se na faculdade de engenharia, a grande ambição contemplada pela mãe para o futuro do único filho homem (Slava só tem uma irmã).
Como o cálculo de derivadas jamais o comoveu, Slava conciliava as obrigaçoes acadêmicas com o estudo, por conta própria, da teoria do teatro.
O rapaz da voz recusada subiu ao palco pela primeira vez aos 18 para representar a pantomina chamada “Litsedei”, a palavra russa que designa o mímico. Passou 20 anos com o espetáculo e ganhou fama na União Soviética.
Não deixa de ser uma ironia que a rejeição pela burocracia universitária soviética tenha conduzido Slava ao humor silencioso do seu herói de infância e que isso tenha definido sua carreira.
Quando a União Soviética entrou em colapso, rebaixando o chamado socialismo real à condição de consequência acidental e passageira da História, ele partiu para o Ocidente – como muitos artistas dos países da antiga Cortina de Ferro. Trabalhou nos anos 90 no Cirque de Soleil.
Desde 1999 dedica-se inteiramente ao seu Slava Snnowshow, que ecoa sua própria infância na gelada Novosil.
Clique aqui para ler a reportagem da Serafina e conhecer as ideias que movem Slava Polunin.
A foto acima foi clicada por Mastrângelo Reino, durante nossa visita a Crécy-la-Chapelle.