A França arrependida
30/04/13 08:22Pudessem voltar a abril do ano passado, os franceses teriam levado ao segundo turno o então presidente Nicolas Sarkozy (centro-direita) e Marine Le Pen (extrema-direita). O socialista François Hollande teria ficado em terceiro.
Em História, o “se” e todas as suas variações servem à especulação e ao exercício intelectual de conjetura, mas não tem consequência já que trata apenas das hipóteses não consumadas. Em política, o segundo turno que não aconteceu ajuda a medir o tamanho do desencanto do eleitor francês com o presidente.
Contratado pelo canal de notícias BFM TV, o instituto de pesquisas CSA foi às ruas para saber em quem os franceses votariam se o primeiro turno da eleição presidencial fosse no próximo domingo com os mesmos candidatos: Sarkozy teria 34%, Le Pen 23% e Hollande 19%.
Se comparado o resultado das urnas com as respostas da pesquisa divulgada ontem à noite, Hollande encolheu quase dez pontos percentuais enquanto Sarkozy e Le Pen cresceram, respectivamente, sete e cinco pontos percentuais.
Na prática, um terço dos eleitores de Hollande no ano passado disse que não voltariam a apoiá-lo novamente. É uma erosão e tanto. Segundo a pesquisa, 62% reprovam suas medidas para combater o desemprego e 49% acham que o governo não é capaz de preservar o poder de compra da população.
Não é de se estranhar a inquietação: a economia deve ficar estagnada esse ano e o desemprego é o mais alto desde 1997. Hollande herdou um cenário degradado com a Europa afundada em uma crise muito grande, mas os eleitores não veem mais nele alguém capaz de evitar que a economia do país vá para o buraco.
Pesquisas anteriores já vinham apontando Hollande como o presidente mais impopular desde que Charles de Gaulle fundou a Quinta República em 1958. A importância dessa pesquisa é medir quem é que mais ganha com a degradação política do socialista.
Evidentemente, Sarkozy é o que tem mais motivos para se deliciar com a saudade que muitos eleitores (inclusive, socialistas) dizem sentir dele no Eliseu.
Outro fato importante é o crescimento sustentado de Marine Le Pen, cuja plataforma é de tirar a França da zona do euro a qualquer custo e expulsar o máximo de imigrantes que conseguir.
Quando ela teve 18% dos votos no ano passado, muita gente se perguntou se esse percentual representa o tamanho da população xenófoba no país. Era a pergunta errada.
Uma parte do eleitorado da FN (Frente Nacional) evidentemente culpa os imigrantes pela piora da economia do país, mas é o desencanto com o projeto europeu que faz madame Le Pen crescer e aparecer. A cada novo país que cai no dominó da zona do euro, Marine Le Pen renova o seu discurso contra a moeda única.
Segundo a CSA, no tal segundo turno Sarkozy-Le Pen: o ex-presidente teria 67% contra 33% da candidata da FN. Se a disputa Sarkozy-Hollande se repetisse, o hiperativo ex-presidente conquistaria 61% dos sufrágios contra 39% do “presidente normal”.
Hollande ainda está por cumprir o primeiro dos seus cinco anos de mandato e ainda pode recuperar terreno perdido. Mas precisa de resultados logo.
Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa CSA-BFM TV (em francês)