Escândalo de conta secreta estoura no colo de Hollande
03/04/13 08:27O escândalo de Jérôme Cahuzac, ex-ministro do Orçamento que admitiu ter contas secretas no exterior, estourou dentro do palácio do Eliseu. Agora há pouco, 12h30 em Paris (7h30 em Brasília), sob pesada artilharia da oposição e críticas da imprensa, o presidente François Hollande veio a público para fazer um pronunciamento duro.
O caso tem um potencial devastador para o governo socialista. No ministério que ocupou até o mês passado, Cahuzac era responsável por combater a sonegação. Ontem, admitiu ter 600 mil euros que circularam por contas da Suíça e Cingapura. Ele foi indiciado por fraude fiscal e lavagem de dinheiro.
“Ele enganou as autoridades do país: o chefe de Estado, o parlamento e, através deles, todos os franceses. É uma falta imperdoável e um ultraje contra a República”, disse Hollande.
No pronunciamento, o presidente também respondeu às críticas que começaram a pipocar sobre o seu suposto conhecimento dos malfeitos do ex-ministro. “Jérôme Cahuzac não se beneficiou de nenhuma proteção, exceto a presunção de inocência”, disse o presidente.
Se a sonegação de impostos é objeto de processo judicial, o maior estrago político veio dos meses de mentiras de Cahuzac. Fez isso em um encontro privado com Hollande, na Assembleia Nacional e em diversas entrevistas.
As contas secretas foram reveladas em dezembro pelo jornal digital “Mediapart” e, até ontem, ele vinha negando veementemente sua existência e prometendo processar jornais que as noticiaram.
A oposição debita o escândalo na conta pessoal de Hollande. “A questão que todos os franceses se poem é François Hollande e [o primeiro-ministro] Jean-Marc Ayrault sabiam ou não das mentiras de Cahuzac?”, disparou o presidente da UMP (centro-direita), Jean-François Copé, agora há pouco ao canal BFM TV, logo após o pronunciamento de Hollande.
A presidente da Frente Nacional (extrema-direita), Marine Le Pen, subiu ainda mais o tom agora há pouco. Em entrevista a emissoras de rádio e TV, ela pediu a dissolução da Assembleia Nacional e realização de uma nova eleição parlamentar para a escolha de um novo primeiro-ministro.
“O nível de desconfiança dos franceses no governo e na classe política é hoje total. É necessário fazer uma nova eleição para que o povo francês possa se expressar”, disse ela.
O escândalo Cahuzac fragiliza ainda mais a situação política do presidente. Pesquisas recentes apontam que somente um terço dos franceses aprovam a conduta de François Hollande no Eliseu.
O descontentamento está ligado ao fato da economia patinar: o desemprego atingiu o patamar mais alto desde 1997 e o governo não conseguiu baixar o déficit das contas públicas nem o endividamento do Estado.
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