O presidente em seu labirinto
29/03/13 13:15Durante a longa entrevista que concedeu ontem ao canal de TV France 2, François Hollande pediu aos franceses exatamente aquilo que eles parecem cada vez parecem menos dispostos a conceder ao seu presidente: paciência.
O cansaço dos franceses com o socialista se expressa nas pesquisas de opinião: para 51%, ele não é um bom presidente contra apenas 22% que consideram que ele cumpre o seu papel corretamente.
É muito pouco para quem chegou ao poder envolto em uma nuvem de enorme expectativa cujo símbolo foi a enorme multidão que tomou a Bastilha para comemorar o fim da presidência de Nicholas Sarkozy.
Ao lembrar que está governando “há dez meses, não há dez anos”, Hollande pediu para ser julgado pelos resultados de seu governo. “Meu dever é fazer a França sair da crise”, disse o presidente.
Na TV, fez dois anúncios:
1) Aplicará por dois anos a taxa de 75% para renda acima de um milhão de euros. A medida, que foi uma das suas bandeiras de campanha, já havia sido considerada inconstitucional em dezembro, mas Hollande a ressuscitou com roupa nova: apenas empresas e executivos serão taxados.
2) Fará uma reforma na previdência e nos subsídios às famílias. Não deu detalhes.
Hollande está acuado pelo desemprego galopante. Mais de 3,2 milhoes de trabalhadores estão sem emprego na França e os anúncios de planos de demissão pipocam pelo país, aumentando a instabilidade social em cidades de todo porte.
A multiplicação dos braços cruzados não é culpa exclusiva do atual governo já que as taxas de desemprego subiram em 52 dos últimos 60 meses no país, segundo o Insee (o IBGE francês). Hollande, entretanto, ainda não conseguiu mostrar os resultados. Por enquanto está sendo julgado pela falta deles.
O desemprego é o problema mais dramático, mas a França também tem dificuldades para conter o seu déficit e enfrenta um endividamento crescente.
A falta de competitividade da economia é um gargalo crítico para que o presidente cumpra a sua promessa de restaurar o emprego no país. O custo da mão-de-obra na França é superior ao da vizinha Alemanha, que cada vez mais se isola na liderança da Europa.
PS: Impossível não admirar um sistema político em que o presidente vai à televisão para responder perguntas e se sujeitar a críticas. Mostra algum respeito pelos eleitores fora do período de campanha eleitoral. Já no Brasil, aversão presidencial a entrevistas já se tornou, infelizmente, um dado da realidade cotidiana.