Desilusão com sonho europeu alimenta extrema-direita na França
26/03/13 10:25Olhando para a França inteira, o segundo turno da eleição parlamentar de Oise, grotão que tem somente 1% do eleitorado do país, nem deveria provocar grande comoção. Mas o desempenho exuberante da extrema-direita virou assunto da crônica política da semana.
Contados os votos, a UMP (União por um Movimento Popular), centro-direita tradicional, levou a melhor com apenas 51,41%, mas não comemorou. A Frente Nacional alcançou 48,59%. Depois de desbancar os socialistas no primeiro turno, teve um salto de 22 pontos percentuais no segundo.
A eleição vale menos por si mesma do que pela tendência que parece apontar: um crescimento lento e sustentável do partido de extrema-direita na França. Ou “a marcha incontestável de nossa chegada ao poder”, segundo as palavras otimistas de Marine Le Pen, presidente da FN.
Marine Le Pen foi ungida herdeira política do pai, Jean-Marie Le Pen, um ex-paraquedista que iniciou carreira como arruaceiro no pós-guerra. Quando disputou a presidência pela primeira vez em 1974, ele não teve nem 1% dos votos. Em 2002, numa eleição com abstensão atípica e com o Partido Socialista quebrado pela briga interna, Le Pen chegou ao segundo turno.
Jean-Marie Le Pen sempre negou a existência do Holocausto e sua única plataforma clara, em todas os pleitos disputados, era a disposição de expulsar todos os imigrantes do país. Em 2011, passou a liderança do partido para a filha.
Quando madame Le Pen mordeu 18% dos votos na eleição presidencial do ano passado, muita gente aqui se perguntou se quase um quinto dos franceses era xenófobo, mas a pergunta estava errada.
Marine não é bronca como o pai e é uma mulher carismática. Muito embora a utopia ultranacionalista da FN (que considera os imigrantes culpados pela decadência francesa), não tenha mudado, o que mudou, de fato, foi a França.
Com mais de 4 milhoes de desempregados, o país cada vez mais olha com desconfiança para os seus líderes tradicionais da centro-direita ou da esquerda socialista.
A crise da dívida – cuja lista de vítimas nos últimos dias passou a incluir o Chipre – torna a cada dia mais plausível a hipótese do fracasso da Europa unida. Há alguns anos, a teoria dos Le Pen de que isso pudesse acontecer não era levada a sério por nenhum analista.
É o discurso antieuropeu de Marine Le Pen que empurra a extrema-direita para frente.
O grande teste da FN será a eleição municipal do ano que vem. E, diga-se a seu favor, Marine Le Pen é laboriosa porque desde que perdeu a eleição presidencial, ela praticamente não parou de correr o país.
Em meio à desesperança com o futuro europeu e o cansaço do eleitor com o revezamento de socialistas e da direita moderada, madame Le Pen busca se beneficiar do mesmo sentimento que, na Espanha, fez os jovens indignados exigirem “que se vayan todos”.