Sarkozy reaparece quando desemprego bate recorde na França
07/03/13 09:21Quase dez meses depois de deixar a presidência, Nicolas Sarkozy declarou que pode voltar para a política se for para empurrado pelo “dever”. As declaraçoes do ex-presidente conservador estão na edição da revista “Valeurs Actuelles” que chegou às bancas hoje.
Na conversa com a revista, parte dela ocorrida no estádio do Paris Saint-Germain, Sarkozy disse que uma possível volta não seria questão de vontade própria, mas de falta de escolha em um momento “pouco glorioso” para a França.
“Estou feliz levando minha filha para a escola e dando conferências ao redor do mundo (…) mas se for obrigado [a voltar à política] não será por desejo, mas por dever. Apenas porque se trata da França”, disse. Veja a íntegra do texto (em francês).
Sarkozy colocou a cabeça para dentro da arena política em um momento bem escolhido. Seu sucessor, o socialista François Hollande, é o presidente mais mal-avaliado na história da 5ª República (iniciada por De Gaulle em 1958).
Somente 37% dos franceses dizem aprovar a presidência de Hollande, segundo pesquisa do instituto Ifop, contratada pela revista “Paris Match”, publicada ontem. Outra pesquisa, encomendada pelo jornal “Le Figaro” e divulgada no final de semana, diz que a taxa de aprovação é de apenas 30%.
Hoje, o canal BFMTV divulgou os dados de uma pesquisa encomendada junto ao instituto BVA-Axys Consultants. A sondagem aponta que três em cada quatro franceses não acredita em melhoras na economia francesa no futuro próximo. Veja os resultados aqui.
Não é difícil entender o pessimismo disseminado. Na manhã de hoje, o Insee (versão francesa do IBGE) apontou que o desemprego fechou o ano passado em 10,2% da força de trabalho – índice mais alto desde 1999. Os dados aparecem neste link.
Se a estatística é fria por si só, todos os canais de TV locais mostram imagens do confronto de hoje entre policiais e trabalhadores de uma fábrica da Good-Year que será fechada no conturbado subúrbio de Amiens-Nord. A situação já foi tema do blog (clique aqui e aqui).
Se as pesquisas apontam desilusão do eleitorado com o atual presidente, a direita francesa tampouco foi capaz de apresentar um nome capaz de capitalizá-la.
A UMP, partido de centro-direita de Sarkozy, rachou numa luta interna e espalhou cacos para todos os lados.
A recente eleição interna terminou com jeito de pastelão com os dois candidatos ao comando da sigla – Jean-François Copé, ex-secretário do partido, e o ex-primeiro-ministro François Fillon – se acusando mutuamente de trapacear a disputa.
Após a recontagem dos votos, Copé levou a melhor. Fillon corre a França para se fortalecer nas bases em busca da candidatura presidencial de 2017.
Não se sabe se o “dever” vai mesmo empurrar Sarkozy para uma nova disputa.
O que se deduz da entrevista, por enquanto, é que o ex-presidente tirou uma casquinha do mau momento político de Hollande ao mesmo tempo em que enquadrou os brigoes da UMP.