Morre o embaixador dos indignados
27/02/13 08:56O veterano diplomata Stéphane Hessel morreu na noite de ontem, em Paris, aos 95 anos. Ícone da esquerda francesa, Hessel ganhou notoriedade fora da França nos últimos anos pelo best-seller “Indignez-Vous” (“Indignai-vos”), um panfleto de 32 páginas que conclamava à revolta contra a financeirização do mundo.
Mas Hessel teve uma vida singular. Foi um desses personagens raros cuja própria vida se confundiu com os fatos históricos da Europa e do Ocidente por quase um século.
Nascido em Berlim em 1917, penúltimo ano da 1ª Guerra Mundial, Hessel se tornou francês 20 anos depois. Seus pais fugiram da Alemanha por causa da ascensão dos nazistas ao poder. A família se instalou em Paris.
Sua mãe inspirou a personagem Catherine no romance “Jules e Jim”, de Henri-Pierre Roché, história que seria imortalizada numa das mais belas obras da Nouvelle Vague pelo cineasta François Truffault. O pai havia traduzido, junto com o filósofo Walter Benjamin, obras de Marcel Proust para o alemão.
Na 2ª Guerra Mundial, engajou-se, de fato, na Resistência contra a ocupação nazista da França. Era uma exceção heróica em um país cuja população aderiu passivamente – ou até mesmo com entusiasmo – aos alemães. Preso em 1944, foi enviado ao campo de Buchenwald.
Libertado ao final da guerra, voltou para a França e iniciou carreira diplomática. Integrou a equipe de redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). O trabalho renderia o apelido “Sr. Direitos Humanos” que o acompanharia até o final da vida na França. Em 2006, recebeu a Legião de Honra, a mais alta distinção concedida pelo estado francês.
Ícone da esquerda, Hessel era um defensor apaixonado da ideia de uma Europa unida como antídoto para as tragédias do século 20. Passou a defender causas pouco populares na França, como o destino dos dos sans papiers – como são eufemisticamente chamados os imigrantes ilegais.
Em 2010, escreveu “Indignez-vous”, esbravejando contra as políticas de austeridade que pipocavam nos países europeus após a crise de 2008. O texto é um convite à desobediência civil que, em nenhum momento, esclarece como isso ajudaria a superar a crise.
Mesmo assim, foi um sucesso instantâneo e virou uma espécie de certidão de nascimento para os jovens espanhois, que em uma grande manifestação em março de 2011, batizaram a si próprios de “los indignados”.
Era um incendiário na política e uma figura afável no trato pessoal. Era de uma geração de intelectuais que ainda era capaz de recitar poemas de Shakespeare de memória, como fez ao final de um encontro com Dalai-Lama, em 2011.
PS: Clique aqui para ler um perfil de Stéphane Hessel, escrito por Leneide Duarte-Plon, publicado pela Ilustríssima, em 2011.
Boa idéia essa de ter “linkado” seu blog na minha barra de favoritos. Os assuntos são bem colocados de forma sempre isenta (preferia até menos isenta e mais opinião, considerando sua experiência) ainda assim, irretocável.