O Sarkozy de François Hollande
06/02/13 06:16Ministro mais popular do presidente François Hollande, Manuel Valls, 50, é uma espécie de reencarnação socialista de Nicolas Sarkozy: um outsider da máquina partidária que ganhou projeção nacional no papel de linha-dura contra o crime e a imigração ilegal na França.
Em dezembro, a revista “The Economist” o chamou de “Sarkozy socialista” tais as semelhanças entre os dois. A comparação faz sentido porque, em estilo e trajetória, Valls e o ex-presidente são muito parecidos.
Midiáticos, os dois fizeram carreira como prefeitos de cidades coladas a Paris e se tornaram ministros do Interior. Sarkozy ocupou o cargo entre 2005 e 2007, ano em que foi eleito presidente.
Valls acelerou algumas políticas até bem pouco tempo condenadas pelos socialistas no governo Sarkozy, como a deportação de ciganos que se encontram ilegalmente no território francês.
Com as ameaças terroristas contra a França após a intervenção no Mali, Valls montou um sistema de vigilância que inclui homens fortemente armados em estações de trem, aeroportos e pontos turísticos.
O ministro expulsou do país pregadores islâmicos considerados radicais e apertou o cerco a supostos jihadistas em território francês.
Com a guerra no Mali, o ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, e das Relações Exteriores, Laurent Fabius, passaram a atrair mais os holofotes da mídia. Valls se bate para não sair do primeiro plano com uma agenda bastante carregada.
Desde que a guerra começou, esteve duas vezes na bancada do programa de entrevistas de Jean-Jacques Bourdin, um pinga-fogo com grande audiência do canal de notícias BFMTV.
Na aparição de ontem, anunciou a detenção de quatro suspeitos de serem militantes radicais islâmicos pelo serviço de inteligência interno.
Nas entrevistas frequentes que concede, Valls faz apelos à “ordem” como uma das bases da República – um discurso muito mais identificado com a direita liberal francesa do que com a tradição da esquerda.
O atual ministro do Interior gosta de dar respostas diretas – o que o lhe confere um aspecto meio bronco em um sistema político em que a retórica sofisticada costuma ser a regra.
ESTRELA ASCENDENTE
Valls já chamava a atenção da diplomacia americana muito antes de um escândalo sexual abater a candidatura presidencial do então diretor-presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn.
Segundo telegrama diplomático de 2009, vazado pelo WikiLeaks, o então prefeito de Évry é descrito como “estrela ascendente” da esquerda. Aqui a íntegra do telegrama (em inglês).
Expoente da ala direita do PS, ele propôs a refundação da legenda com a mudança do nome da agremiação partidária em 2007, o que contribuiu para fazer crescerem as desconfianças internas do establishment partidário sobre quão esquerdista Valls seria afinal.
Ele chegou a se colocar como pré-candidato a presidente propondo austeridade fiscal em 2011, propondo uma política econômica com foco na redução do déficit das contas públicas e uma abordagem rigorosa na questão da segurança.
Valls teve somente 6% dos votos na primária socialista. O partido abraçou a plataforma de Hollande com foco na promoção do crescimento da economia.
Como o congênere da direita, Valls não se formou em nenhuma das “grandes écoles”, como são chamadas as escolas da elite da França que formam a quase totalidade da classe dirigente do país. Formado em história, Valls é fluente em espanhol, catalão – seus idiomas maternos – e italiano.
Se Sarkozy, muitas vezes, não era considerado suficientemente francês por ser filho de um imigrante húngaro, Valls nasceu em Barcelona e só obteve a cidadania francesa em 1982, quando se naturalizou.
Valls para presidente da Catalunya!