Exército de Mali: uma parte do problema
24/01/13 00:39Pouco mencionado, o Exército de Mali teve um papel crucial para afundar o país na crise que desencadeou a ofensiva militar francesa.
Mal treinado e sem equipamentos, o Exército não conseguiu deter a proliferação de rebeldes que sequestraram, pouco a pouco, o norte do país.
A região ficou sob controle de um mosaico de rebeldia que inclui desde separatistas tuaregues a grupos de radicais ligados à Al-Qaeda, que impuseram um regime de terror baseado na sharia. Tudo aconteceu praticamente sem qualquer resistência.
Em abril de 2012, militares liderados pelo capitão Amadou Sanogo derrubaram o presidente Amadou Toumani Touré e encerraram um ciclo de 20 anos de estabilidade democrática no país.
A quartelada e as disputas de poder no sul do país foram uma avenida de oportunidade para os rebeldes se consolidarem no norte em uma área equivalente ao território da França.
Dois diplomatas ocidentais me disseram que o apadrinhamento político e até mesmo a venda de patentes militares imperam no sistema de promoção.
Agora surgem relatos de que os militares malineses são responsáveis por execuções em massa de civis em zonas de onde os rebeldes foram expulsos. A ONG Federação Internacional dos Direitos Humanos estima em 33 casos até agora.
As vítimas são suspeitas de colaborarem com os rebeldes ou mesmo simplesmente pessoas de aparência tuaregue.
Breve ironia histórica: em janeiro de 2013, o Mali (independente desde 1960) deveria comemorar os 50 anos da retirada dos últimos soldados da ex-metrópole francesa.
(Post escrito em Bamaco)